sábado, 9 de março de 2013

Múmias Egípcias Revelam Seus Segredos por Wallace Gomes

A mumificação dos mortos é um dos mistérios inquietantes do Antigo Egito. Por que esse esforço dos antigos egípcios, para conservar esses corpos que a vida abandonou? Para os egípcios a morte não era o fim, mas uma passagem perigosa, na qual os diversos elementos que constituem o corpo humano se dispersavam. Para assegurar essa passagem e garantir a paz dos mortos, esses elementos, deveriam ser conservados; o corpo, o nome, etc. Foi durante a 3ª Dinastia (cerca de 2646-2577 a.C.) que teve início a mumificação no Egito. Gradativamente as técnicas foram sendo aperfeiçoadas, atingindo o auge no final do Novo Império (cerca de 1551-1070 a.C.) e no período imediatamente a seguir (cerca de 1000 a.C.). Os métodos variaram conforme a época e as posses da família do falecido. Através do exame das múmias e das descrições do historiador grego Heródoto, foi possível reconstituir as fases do processo de mumificação. O processo utilizado no final do Novo Império durava cerca de 70 dias. É interessante que até mesmo nas Escrituras Sagradas é mencionado esse tempo (Gênesis capítulo 50 vers. 1 ao 3). A parte mais importante do processo de mumificação era a desidratação do corpo, através de uma solução de natrão (mistura de carbonato, bicarbonato, cloreto e sulfato de sódio). O cérebro era retirado e, com exceção do coração, todos os órgãos internos eram tratados separadamente e repartidos em 4 pacotes, que eram distribuídos em 4 vasos especiais. O corpo era então enchido com natrão e resinas perfumadas. Em seguida era coberto com natrão durante cerca de 40 dias. Passado esse tempo, os materiais de enchimento eram retirados e os membros recebiam um enchimento subcutâneo, com areia, argila e outros materiais. As cavidades do corpo eram preenchidas com tecidos impregnados em resina e saquinhos com substâncias aromáticas como mirra, canela, henna, etc. O cadáver era amaciado com ungüentos e as orelhas, olhos, nariz e boca eram cobertos com cera de abelha. A incisão feita o flanco esquerdo para a retirada das vísceras era coberta com cera de abelha e recebia, em alguns casos, uma placa de ouro sobre a qual se havia gravado o olho Udjat. Após receber uma camada de resina protetora, o corpo era finalmente enfaixado. Entre as camadas de bandagens eram colocados os amuletos, as jóias, máscara mortuária, dedeiras para os dedos das mãos e dos pés, sandálias, etc. Hoje as múmias podem contribuir de várias formas para o nosso conhecimento. Há muitos anos, o estudo das múmias tem revelado descobertas surpreendentes. O bacteriólogo francês Marc Armand Ruffer, nascido em 1859, que lecionou na Universidade do Cairo, começou a praticar cortes microscópicos em lesões de múmias. Seus trabalhos foram apresentados à Sociedade Cientìfica do Cairo e publicados no Britsh Medical Journal, dando a imensa contribuição à nascente ciência da paleopatologia: estudos das doenças demonstráveis nos restos humanos e animais da Antiguidade. Ruffer descobriu no fígado e nos pulmões das múmias, quantidades consideráveis de bactérias. No interior dos rins dos faraós da 20ª Dinastia (cerca de 1196-1070 a.C.), achou ovos de bizardia, espécie de verme que vive no aparelho circulatório e que os egípcios ainda temem quando se banham no Nilo. Além de Ruffer, muitos outros especialistas dedicaram-se ao estudo dos corpos preservados dos antigos egípcios. Autópsias realizadas em múmias forneceram dados impressionantes. A análise de um pedaço de pele pertencente a uma múmia datada do século 13 a.C., permitiu observar que uma capa superficial perdeu sua epiderme, porém houve uma conservação da rede colágena, de uma camada hipodérmica intermediária e de uma capa profunda com músculos, cujas estrias transversais podem ser vistas e dentro das quais se encontram vasos e, até mesmo, glóbulos vermelhos. Uma descoberta muito interessante foi feita por Busse Grawitz, cientista argentino que demonstrou a possibilidade de proliferação dos tecidos mumificados, desde que submetidos a circunstâncias favoráveis. Realizando seus estudos em múmias de índios pré-incaicos e múmias egípcias, ele conseguiu que houvesse crescimento celular em ambos os casos. Um grande aliado no estudo das múmias é o processo de Raios-X. Permitindo um exame das múmias sem danificá-las, Raios-X possibilitam detectar a presença de tumores que podem ter levado a pessoa à morte. O anatomista Gratton Elliot Smith foi um dos primeiros a utilizar este processo no início do século XX e, também, o primeiro a estudar a múmia sem dissecá-la. Posteriormente, a radiografia continuou a dar numerosas informações sobre as múmias. Porém, o estudo das múmias com Raios-X convencional tinha grande limitação, por apenas distinguir, com nitidez, estruturas mais compactas como os ossos, o que requeria que a múmia fosse desenfaixada. Desde 1977, médicos vêm examinando múmias com a ajuda de um avançado processo com Raios-X chamado CAT scanning (Tomografia Axial Computadorizada). Através do CAT é possível examinar uma múmia em vários ângulos, cada um como uma fatia de pão. Essas imagens são processadas por um computador que produz uma imagem tridimensional do objeto e todas as suas superfícies, dentro e fora. Ele possibilita o zoom de uma fatia ou uma parte em especial, para um exame mais detalhado. As espessuras das fatias podem também ser variadas para dar mais informação numa área como o crânio ou dentes. Com este sistema a múmia pode ser examinada sem que o sarcófago seja aberto, sendo possível até descobrir como seria o rosto da pessoa. A universidade de Illinois realizou uma das primeiras experiências deste tipo. Com o programa Da Vinci, usado há mais de 10 anos nos EUA para produzir fotos exatas de pessoas que desapareceram há muito tempo, foi feita a reconstituição do rosto de um menino que viveu no século I a.C. O menino, com idade entre 7 e 11 anos, foi embalsamado sem muito cuidado, mas exames mostraram que ele tinha testa larga, bochechas grandes e nariz saliente. Os exames feitos nas múmias podem esclarecer dúvidas sobre a vida dos antigos egípcios, sua alimentação, doenças, relações familiares, etc. No caso das múmias reais, estas podem também melhorar nossa compreensão da cronologia egípcia. A múmia de Ramsés II, abrigada no Museu Egípcio do Cairo, revela um homem de rosto longo, fino e nariz aquilino. Raios X demonstraram que, para manter o característico nariz curvo deste faraó, os embalsamadores colocaram dentro dele grãos de pimenta escorados por um minúsculo osso de animal. Ele tinha provavelmente uns 90 anos quando morreu e tinha suas costas curvadas a tal ponto, que os embalsamadores tiveram que quebrar sua espinha para endireitar seu corpo. Abscessos notados em seu maxilar devem ter lhe causado muita dor. O rei também sofria de problemas de circulação sanguínea, artrite, uma ferida no ombro e foram descobertos sinais de uma fratura cicatrizada no dedo do pé. O exame de DNA também é muito praticado pelos estudiosos de múmias. Cientistas suecos conseguiram fazer, pela primeira vez, a clonagem do DNA de uma criança de 1 ano, morta há mais de 2400 anos. Isso foi possível porque, no caso dessa múmia, embora as células tivessem perdido suas membranas protetoras, o DNA estava quase intacto. O estudo das moléculas das múmias poderá esclarecer graus de parentesco entre faraós e sacerdotes, descobrindo pelas informações genéticas quem foi quem de fato nas elites de dirigentes egípcios. Assim a ciência, com sua avançada tecnologia, permite que se faça “falar” cadáveres com milhares de anos e, com isto, ajuda historiadores e arqueólogos a desvendarem o mistério do passado Wallace Gomes (egiptólogo e artísta plástico) Set/2008 fontte: http://www.khanelkhalili.com.br/egiptologia02.htm

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