quarta-feira, 20 de março de 2013

Os assassinos estão livres -.... NÓS NÃO ESTAMOS !





Victor Martins*


Certa vez, um aluno manifestou interesse em estudar a história da máfia no Brasil, e pediu uma pequena orientação... Falei, "ótimo, você pode começar pelos partidos políticos".
Indagou-me, perguntando a relação entre essas instituições e a máfia. Em resposta, "os partidos políticos no Brasil são as máfias propriamente ditas". Diferente dos criminosos comuns, os criminosos de "colarinho branco" não vivem às margens da sociedade (muito pelo contrário) e tampouco são combatidos pelo poder, é o mesmo estilo de vida de um membro das famílias mafiosas.

Desde o Estado patrimonialista enunciado por Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil" (1936), um clássico da nossa historiografia, e teorizado por Max Weber em "A política como vocação" (1919-20), sabemos que maus políticos apropriam-se da máquina pública em prol de seus interesses particulares e fazem-no por meio de uma representatividade política, ou seja, via partidos políticos.

A exemplo do mafioso, o mau político empreende uma busca ensandecida pelo poder. A expropriação da verba pública, embarga serviços públicos, congestiona vias, ceifa vidas e torna um inferno a (sobre)vida das pessoas. O mafioso é invisível pela discrição, como diria um provérbio siciliano "Aquele que é cego, surdo e mudo viverá cem anos em paz", já o político é "invisível" pelo Estado que lhe dá guarida, que lhe dá poder de definir o valor do próprio dividendo e até criar um 14º e 15º salário.

Na Itália, por exemplo, o berço da máfia, as organizações criminosas sicilianas existem desde fins do século XIX. Considerando que a Unificação italiana foi nesse período (1861), as instituições estão intimamente "coladas" ao projeto de país, vinculados por uma espécie de cordão umbilical. Alguém discordaria de que Belusconni é um mafioso travestido de político?

Enfim, quanto aos nossos políticos, basta olhar para a cultura política de Brasília para acreditar numa "mafialização" como política de Estado, na qual os "capo dei capi" (chefe dos chefes) são eleitos constitucionalmente. Grande parte das transações fincanceiras efetuadas pelo Estado - que seja a licitação para definir as empreiteiras que promoverão as obras dos estádios para a Copa 2014, ou a simples escolha dos livros para as escolas públicas, nos termos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) -, já vem embutido a quantia que um "atravessador" no processo de licitação possa vir a ganhar, caso a empresa venha a ser laureada...

Interessante que o termo é proveniente do adjetivo siciliano "mafihusu", de matriz etimológica árabe (mahyas) que significa "alarde agressivo, jactância". Face a isto, existe agressão mais perversa do as que são praticadas pelos políticos brasileiros, tanto hoje quanto no passado? Monarquia, República Velha, Estado Novo varguista, Ditadura e Democracia... Independente da forma de governo, o povo sempre à revelia do que é discutido no Congresso. Para o mafioso, as informações nas mãos do povo é vista com receio. Para o político, a consciência do povo é a sua derrocada. Mafiosos e maus políticos, faces de uma mesma moeda, não se opõem porque se completam.

Enquanto o Estado for uma "máquina" para multiplicar bandidos, nada mais restará à população a não ser o destino fatalista de viver atrás das grandes, condenadas à prisão perpétua. Como diria Renato Russo, "os assassinos estão livres, nós não estamos".
Vamos sair!


* pesquisador de Cinema, História e Relações Internacionais

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